03.03 Tornar o invisível visível

Introdução
Selecione uma tabela de dados em Excel, prima F11 e obterá imediatamente um gráfico. Ensine um macaco a premir F11 para ganhar uma banana ou peça ao ChatGPT para fazer o gráfico. O resultado será sempre a passagem da análise de dados individuais para a análise das relações entre eles, as quais poderão ou não ser significativas.
Em alguns casos, quando há alguma familiaridade com os dados, já sabemos com alguma precisão que imagem iremos obter. Noutros casos, uma análise mais profunda e detalhada é necessária para que se transforme em conhecimento real. Nesta lição, vamos explorar como diferentes abordagens podem mudar a nossa perceção dos dados, e como a visualização pode revelar ou esconder tendências significativas.
Cavar mais fundo: séries temporais mais longas
Nos filmes de animação antigos, era frequente alguém dar um pontapé numa pedra e do chão jorrar petróleo, ou passar por algum lado e ativar um geiser. Hoje, para encontrar petróleo temos de ir um pouco mais fundo.

De forma semelhante, a procura de relações entre dados tem de ser mais que dar um pontapé para ver o que acontece. Deixe-me mostrar-lhe um dos meus exemplos favoritos. No gráfico abaixo, tentei reproduzir com fidelidade um gráfico que encontrei no instituto de estatísticas grego. O que nos diz o gráfico? Que o número de casamentos civis e religiosos é semelhante e que não houve variação significativa no período. Ou seja, um gráfico em que nada acontece.

Mas fiquei curioso. Desde quando viria a sobreposição das séries? Aqui está o gráfico refeito com uma série temporal mais longa. A zona cinzenta corresponde aos dados representados no gráfico original.
Nota algo peculiar na primeira parte da série? Talvez uma quebra acentuada dos casamentos religiosos a cada quatro anos? Pesquisei um pouco e descobri que o ciclo de quatro anos coincide com os anos bissextos e com os Jogos Olímpicos. Aparentemente há crenças e superstições associadas a este ciclo que desaconselham o casamento nesses anos.
É notável como o autor do gráfico original conseguiu focar-se no único período em que nada acontece! Não se exige futurologia, mais o histórico era demasiado interessante para ficar fora do gráfico.
Este gráfico retrata algumas tendências de longo prazo que visualmente são claras, mas que o meu parco conhecimento da sociedade e cultura gregas contemporâneas não me permitiu interpretar. Quando não dominamos o contexto (cultural, profissional), procurar a adequada validação é um dos passos essenciais no processo de visualização de dados. Veremos, na Secção 12, como os nossos contextos (organizacional, sócio-cultural) influenciam tanto a produção como o consumo de gráficos.
Conclusão
Ativar o modo relação-entre-dados usando alguma forma de transformação visual ajuda-nos a explorar e ter uma ideia básica dos dados. Mas os padrões superficiais que encontramos podem não ser os únicos, ou mesmo os mais interessantes, pelo que devemos estar disponíveis para uma exploração mais profunda. No entanto, quanto mais fundo exploramos, maior a necessidade de conhecimento contextual que reconheça e dê sentido aos padrões encontrados.
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