Sobre a criatividade em visualização de dados
(Os links marcados com uma estrela correspondem a lições no curso de Visualização de Dados acessíveis a subscritores.)
No meu curso, chamo à visualização de dados um “albergue espanhol” onde cabem as mais diversas formas de tratar visualmente os dados. Algumas dessas formas caem no que tradicionalmente achamos ser a criatividade: mais uma experiência estética que uma forma de comunicar informação. Se abrirmos um livro de estatística, é provável que tenhamos uma perspetiva oposta. Pelo meio encontramos múltiplos gradientes.
E nós, meros mortais, que poucas competências de design gráfico temos, sem ferramentas para lá do Excel e do PowerBI, e cujo objetivo é monitorizar vendas a forma mais eficaz possível? Há espaço para a criatividade nas nossas rotinas diárias?
Uma outra criatividade
Claro que sim, mas não na forma errada dos efeitos enlatados, do 3D decorativo: o “uau!” tem de vir do conhecimento e da facilidade de acesso e interpretação. Ser criativo aqui significa sobretudo ser curioso ⭐, interrogarmo-nos constantemente se há outras formas (mais eficazes, mais eficientes, mais apelativas, mais...) de comunicar aquela mensagem, não ficar preso às pré-definições e às bibliotecas de gráficos.
Mas por vezes enamoramo-nos em excesso pela parte visual. Esquecemo-nos de que, em simultâneo, devemos torturar os dados ⭐, vê-los de longe e à lupa, sozinhos e cruzados com outros, comparar o tempo linear com o tempo cíclico ⭐. Como se fossem um cubo de Rubik, na procura constante até encontrar o alinhamento que corresponde à nossa mensagem e ao que tem uma resposta positiva da audiência. E depois recomeçar.
Claro que isso tem um custo. Talvez como sempre foi feito seja a melhor forma de o fazer. Talvez a organização ainda esteja em 1980. Talvez as vantagens não justifiquem a disrupção. Talvez a audiência não tenha o grau de literacia adequado. Talvez falte uma cultura de risco e inovação. Tudo isto embrulhado na necessidade de navegar na office politics, porque vender as ideias é essencial.
Qual é, mesmo, mesmo, a minha pergunta aos dados?
O primeiro passo para a criatividade é deixar por momentos de lado os dados e os gráficos prontos a usar e, armados apenas com as nossas dúvidas, tentar compreender quais são as nossas perguntas ⭐ e as respostas que queremos encontrar (não no conteúdo, mas na forma mais eficiente de responder).
O tempo linear e o tempo cíclico ilustram bem esta ideia. Nos gráficos em que é visível uma forte sazonalidade, uma representação linear do tempo apenas nos diz que há um verão e um inverno. Neste gráfico, pelo contrário, a sazonalidade também é visível, mas ele dá-nos muito mais elementos sobre a evolução do turismo. Por exemplo, residentes tendem a ter férias mais tarde e voltam de férias mais cedo que os não residentes (repare na diferença entre uns e outros em setembro e outubro). É provável que muitos destes detalhes se perdessem no tempo linear.
(Estes dados foram atualizados a 28 de setembro de 2025, com dados até julho.)
Conclusão
A criatividade em visualização de dados não tem de se traduzir num resultado puramente estético: ela deve expressar também a novas formas de representação dos dados alinhadas com as perguntas da audiência. A clarificação da pergunta torna mais claro o tipo de resposta que procuramos, sem a necessidade de "despejar" todos os dados num gráfico e procurar aí a resposta.
Member discussion