Colheitas e mudança climática
(Aviso: Não sou comentador de televisão, por isso não deveria falar daquilo que não percebo bem. Mas vou cometer esse pecado capital na visualização de dados. Aceito os vossos merecidos açoites.)
Talvez esteja na altura de ajustar as datas das festividades associadas ao ciclo das colheitas, como o São Martinho, Festas das Vindimas, Dia de Ação de Graças.
O gráfico abaixo mostra, nas linhas de fundo cinzentas, o acumulado de calor ao longo do ano, para os anos de 1979 a 2024 naquele ponto de Portugal. Clique num ponto do mapa a altere os parâmetros para ver as variações nesse acumulado.
Engenheiros agrícolas e outros que trabalham na agricultura já perceberam que estou a falar de GDD. Os GDD são interessantes porque, sendo tudo o resto igual, é possível mapear o crescimento das plantas em quantidade de GDD: uma fase por volta dos 500 GDD, por exemplo, outra nos 1000, 1500 GDD e chegamos à colheita. Cada planta tem a sua quantidade de GDD de referência, que pode ser encontrada para dezenas de culturas (há documentos da FAO com essas referências). Os GDD são também essenciais para modelos de gestão de rega, por exemplo.
Como são calculados os GDD: como referência, as plantas usam o calor entre os 10 e os 30 graus. Se a temperatura média de um dia foi 18, significa que são 8 graus. Depois basta ir acumulando.
As linhas coloridas identificam os anos e, como podem ver, os anos mais recentes estão no topo das linhas e os primeiros anos estão na base. Não sei até que ponto é legítimo usar esta métrica fora do âmbito agrícola, mas parece-me evidente que ela é mais um indicador que quantifica as alterações climáticas.
Estou a terminar uma versão em Excel que contém mais gráficos e dados para a toda a península. Vou publicá-la nos próximos dias para subscritores da Academia Wisevis.