Ideias que se recusam a morrer
Há uma corrente subterrânea no LinkedIn que não faz a mínima ideia do que é a visualização de dados e que continua a repetir o mantra:
“barras para valores, linhas para evolução, tartes para proporções”.
E tudo deve ser familiar, custe o que custar. É esta ignorância que nos deu a triste componente visual do Power BI. Vamos lá falar sobre isso.
Antes de mais: Temos liberdade para fazer tudo o que quisermos quando traduzimos números numa expressão visual (com algumas reservas básicas).
Na organização
Num contexto empresarial, onde (em teoria) as pessoas preferem gráficos mais eficazes, precisamos de:
- Dados e uma boa compreensão deles, obviamente;
- Esclarecer a questão de negócio que o gráfico deve responder;
- O conjunto de objetos e respetivas propriedades que podemos usar para responder de forma eficaz (o motor gráfico que usamos);
- O contexto (perfil do público, forma de distribuição, etc.).
Surpresa: num contexto de baixa literacia gráfica, não precisamos realmente de nos preocupar com a familiaridade (ligeiro exagero). O que devemos ter em conta são aspetos como:
- Quão eficaz é o gráfico?
- Como é avaliado pelos utilizadores?
- Reconhecem uma melhoria significativa (conclusões, poupança de tempo)?
- Acham que vale o esforço de se tornar um gráfico familiar?
- Pode ser feito facilmente em Excel? 😀 (ou seja, pode ser integrado nos processos e competências atuais sem causar grande perturbação?)
Exemplos não-conformes
Eis três exemplos de gráficos eficazes com que muitas pessoas não estão familiarizadas e que não encaixam na narrativa dos gráficos “básicos e familiares”:
- Pequenos múltiplos (comparar ou monitorizar facilmente múltiplas entidades);
- Gráficos de ciclo (ir além da simples sazonalidade);
- Toda a família dos dot plots (muito mais eficazes do que os gráficos de barras para duas ou mais séries).
O que fazer?
Então, o que devemos fazer numa organização?
- Esclarecer quais são as perguntas de negócio mais comuns;
- Decidir qual a melhor forma de responder-lhes;
- Normalizar o mais possível e, se possível, incorporar essas prédefinições na biblioteca de gráficos;
- Transformar isso num livro de estilos e partilhá-lo;
- Mantê-lo como um documento vivo;
- Garantir que as ideias-base são seguidas, mas deixar espaço para que as pessoas experimentem novas abordagens.
(Shameless plug: é exatamente isto que ajudo as organizações a fazer no meu curso presencial de dois dias em visualização de dados. Portanto, se estiver em Portugal…)
Conclusão
Em resumo: devemos melhorar a literacia de dados e a literacia gráfica na organização. Não deixamos ninguém para trás, mas não devemos assumir que meia dúzia de tipos de gráficos antigos conseguem responder às perguntas complexas e subtis de hoje só porque são familiares.
(Ah, e o Excel consegue fazer gráficos muito mais sofisticados do que imagina. Partilhei o exemplo de cima anteriormente na comparação de gráficos de barras e de pontos. E repare como o dot plot é muito mais eficaz do que o gráfico de barras.)
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