Dados não temos

A ausência de dados em Portugal é algo extraordinário. Não há conferência, debate, em que a conclusão não se resuma a era giro fazer isto, mas não há dados.
Dados não temos

Numa das mais famosas cenas do cinema português, a analista de dados pede ao funcionário do INE: Dê-me dados sobre x. O funcionário responde: dados sobre x não temos. A analista: então dê-nos um pacotinho de opiniões sem fundamento. Isto repete-se até já não ser necessário dizer que "dados não temos".(OK, seria necessário fazer um pequeno ajustamento no papel do funcionário, mas percebem a ideia.)

A ausência de dados em Portugal é algo extraordinário. Não há conferência, debate, talvez mesmo a conversa de um grupo de bêbados às quatro da manhã em que a conclusão não se resuma a era giro fazer isto, mas não há dados.

Li algures que, nos debates na Assembleia Nacional nos anos 1950 que se dizia que era perigoso ensinar as pessoas a ler, porque poderiam ficar com ideias. Que o poder não gosta de pessoas com ideias é uma coisa universal. Aqui, vários dos fundamentos do salazarismo ainda se mantêm, apenas ajustados aos tempos.

Não temos uma cultura de dados. Temos uma cultura de opiniões que antigamente se concentrava no futebol e que agora importa todas as guerras culturais. Ninguém parece importar-se muito.

Escrevi que o RASI é inconcebível para um relatório sobre segurança interna. O ministro das finanças faz uns gráficos enganadores e poucos reclamam. Do estado dos dados abertos nem vale a pena falar. Tudo o que é mais interessante e detalhado é confidencial, se existir. O site que reporta o apuramento dos resultados eleitorais não quer que o comum dos mortais analise os dados. Os exemplos não têm fim.

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